Monday, August 16, 2010

Um Jogo de Vôlei, Um Dia de Luto e o Abandono na Batalha

Neste sábado passado eu fui assistir a seleção feminina de vôlei do Brasil jogar aqui em Macau contra a Holanda. Foi um jogo nervoso. O Brasil venceu o primeiro set, mas a Holanda veio com um bloqueio forte e acabou vencendo o segundo set. O Brasil conseguiu vencer o terceiro set, e parecia que a Holanda ia levar o quarto set, novamente com um bloqueio muito forte, quando o Brasil conseguiu se impôr e acabou fechando o jogo no quarto set. Enquanto eu observava a partida não podia deixar de reparar nos técnicos da seleção brasileira e holandesa. Enquanto o técnico da seleção holandesa permanecia sentado e calado por quase todo o jogo, só instruindo as suas jogadoras nos intervalos, o técnico da seleção gritava, direcionava, xingava, vibrava e sofria junto com o seu time, em pé, ao lado da quadra durante todo o jogo. Conseguia ver as mudanças no time da Holanda de um set para o outro, mas dava para ver a mudança no time do Brasil durante o desenvolvimento de cada set. Ganhamos os tickets para assistir os jogos de sábado e domingo (na sexta tivemos uma reunião aqui em casa e não pudemos ir), e após ver como o Brasil jogou contra a Holanda estava com uma grande expectativa para o jogo de domingo, que seria contra a China.

Mas no domingo ficamos sabendo que o jogo tinha sido cancelado, porque o governo da China havia decidido fazer daquele domingo um Dia Nacional de Luto pelos mortos do deslizamento e enchentes de Zhouqu, na província de Gansu, onde mais de 1239 já foram dados como mortos, 505 ainda estão desaparecidos e milhares estão em abrigos providenciados pelo governo. Com isto todas as atividades de entretenimento foram canceladas. O governo de Macau resolveu seguir a direção da China e cancelou os eventos em Macau também. Dias de luto nacional como estes são raros na China, aconteceu em Abril pelas vítimas do terremoto Yushu, e dois anos atrás por três dias pelos mortos do terremoto que atingiu Sichuan. O governo prediz que ao redor de 45000 pessoas vão ter que ser evacuadas de suas casas. As chuvas têm continuado e estão atingindo até mesmo Sichuan, a província onde aconteceu o destrutivo terremoto dois anos atrás. O que merece destaque é a maneira rápida como o governo respondeu a esta catástrofe, diferente do que alguns dizem da sua atuação no terremoto de Sichuan. Pela televisão dá para ver as várias imagens de soldados na lama, procurando por sobreviventes, os barcos pegando pessoas em suas casas, as escavadeiras. Também é triste de ver o choro dos sobreviventes ou daqueles que perderam familiares, ou a frustração ao encontrar mais um corpo no meio dos entulhos. Tudo isto dá uma sensação de incapacidade, limitação, dor, sofrimento, abandono. Olhando para eles eu comecei a me perguntar: E agora? Como estas pessoas vão viver as suas vidas? E as feridas? Alguns deles ficaram sozinhos no mundo, sem ninguém. Outros perderam tudo o que tinham. Pra onde eles vão a partir daqui? As circunstâncias e as pessoas muitas vezes podem acabar por nos abandonar e nos ferir, mas como vamos reagir a isto é importante. Para mim, ter que mudar para Macau não estava nos meus planos, mas as circunstâncias da vida acabaram me forçando a isto. Foi difícil. Me senti ferido, até abandonado. Estava muito triste, mas a medida que o tempo passava eu comecei a enxergar o que Deus estava fazendo.

Ao meditar nos valentes de Davi eu vim a conhecer Eleazar e Samá, que também experimentaram a realidade do abandono e da rejeição, mas eles não deixaram isto direcionar suas vida. Hoje eu quero falar sobre Eleazar.


2 Sm. 23:9,10

Eleazar está em uma guerra. Sempre que existe uma guerra um soldado nunca vai para a batalha sozinho. Existe um exército que vai junto. Mas, e se o exército foge e te deixa sozinho para lutar contra o inimigo? Parece que este é o caso de Eleazar. Quem é ele? Ele é o filho de Dodô, cujo nome significa "carinhoso", "amoroso", o que pode expressar traços de caráter que ele possuia. Possivelmente, de seu pai ele encontra afirmação, amor e encorajamento. Ele aprende que não existem limites ou barreiras para o que se pode conseguir se esforçando e lutando. Ele sabe que mesmo que fracasse, ao voltar para casa vai ser recebido por uma família que o ama e o aceita pelo que é. Disto ele encontra certeza para desafiar os filisteus.

Talvez esta seja a guerra em que Davi enfrentou Golias. Se é, isto possívelmente explique a razão de Israel estar com medo do inimigo. Mas não Eleazar. Ele está ali, provocando o inimigo, sem se preocupar, quando, subitamente, ao olhar para trás, ele percebe que o seu exército inteiro tinha simplesmente desaparecido. O seu exército havia fugido da batalha e o deixado sozinho no campo de batalha. O exército inteiro do inimigo está vindo contra ele.

Qual deveria ser a coisa mais racional a ser feita? Retroceder também, é claro. Mas ele tem outras idéias em mente. Ele se posiciona e luta contra o inimigo, sozinho, e os derrota ao ponto de sua mão ficar dormente e grudar na espada. Mais tarde as tropas voltaram, não para ajudar, mas para saquear os mortos.

O nome Eleazar significa "Deus ajudou”. Sem exército, mas com Deus ao seu lado.

O que aprendemos aqui?
1- Nós precisamos de ter vontade de lutar: Temos que ser pró-ativos.
Como o técnico do Brasil, não podemos esperar o intervalo para fazer os ajustes, temos que estar ao lado da quadra, dando as instruções que vão aperfeiçoar as jogadas durante o decorrer do jogo e mudar a cara do jogo. Precisamos querer estar no campo de batalha, e ir à batalha e não esperar que a batalha chegue até nós. Temos que entender que estamos em uma guerra e quer queiramos ou não vamos ser influenciados por ela.

2- Precisamos de ser resolutos em nosso espírito: Ousadia.
Não podemos fugir das circunstâncias que nos atacam. Assim como as jogadoras de vôlei, temos que nos preparar para o que vai vir pela frente e responde de acordo. Como os soldados que vão nos entulhos atrás de vivos ou mortos, sem saber o que encontrarão, mas com a esperança de encontrar sinais de vida, vitória e a sensação de um trabalho bem feito, não podemos fugir da responsabilidade que nos confronta. Temos que ser ousados para lutar até o fim.

3- Não aceitar a derrota pela fraqueza e cansaço da carne: Cansados, mas sem desistir.
Sim, as batalhas que vamos enfrentar vão sugar a nossa energia. Vão exaurir os nossos recursos. Vão muitas vezes querer roubar a nossa esperança. Mas não podemos deixar a fraqueza, limitações, o tamanho da tarefa, etc., tomar a melhor sobre nós. Temos que perseverar até o fim. Imagine o terror dos soldados para cada corpo morto que eles encontram; imagine a cena de desolamento e destruição; pense no tamanho da tarefa que é fazer uma busca em uma cidade inteira soterrada pela lama; imagine jogar tudo o que você consegue e levar a partida para o quinto set (o jogo da Holanda e República Dominicana foi para 5 sets). Não se pode parar. Tem que seguir em frente, senão a tarefa não é concluída, senão alcançamos apenas o fracasso, a derrota. Não! Não podemos desistir.

4- Se apoderar da Palavra de Deus.
Tão intensa era a batalha que a espada grudou na mão de Eleazar. A espada é uma representação da Palavra de Deus (Efésios 6:17) e nós precisamos que ele se apegue em nós. Precisamos respirar a Palavra. Precisamos viver a Palavra. Assim como as jogadoras praticam e praticam o vôlei para na hora do jogo poderem jogar o seu melhor, assim como elas ouvem as palavras do técnico durante o jogo para fazer as alterações necessárias nas suas jogadas, assim como os soldados praticam e treinam para o dia da batalha ou da catástrofe natural, deste mesmo modo nós precisamos treinar e respirar e viver a Palavra até que ela se apegue a nós e a nossa resposta natural seja as verdades da Palavra.

5- Nós recebemos revelação e vitória em primeira mão; outros vem e a recebem em segunda-mão (e, no geral, a revelação não se encaixa para a maioria).
Eleazar lutou e venceu os filisteus. Os israelitas que fugiram só voltaram para tomar posse dos despojos de uma batalha que eles não lutaram. Hoje muitos são assim. Existem aqueles que oram, estudam a Palavra, jejuam, pesquisam, gastam tempo, horas, dias, semanas, meses para receber uma revelação de Deus através da Palavra que se encaixa para as realidades e desafios que eles estão enfrentando. Existem aqueles que simplesmente não fazem nada, e tomam as revelações que alguém recebeu, e na maioria das vezes aquelas revelações nem sequer se encaixam na sua vida. Uma coisa é torcer pelo Brasil, outra muito diferente é jogar pelo Brasil. Eu posso me orgulhar do Brasil ter ganho da China, Holanda, Rep. Dominicana, mas quem jogou sabe o que precisou para chegar lá. Eu posso ler sobre a catástrofe da China, mas quem está lá, se afundando na lama, escavando, etc., é que sabe a alegria e a adrenalina de encontrar sobreviventes depois de horas de soterramento.

6- Deus dá a vitória.
Ao final lemos que o Senhor concedeu a vitória. Não importa quão corajoso seja o instrumento que lutou a batalha, o louvor da vitória, da realização, da conquista, deve ser dado a Deus. Eleazar lutou a batalha, mas foi Deus quem concedeu a vitória. As meninas do Brasil jogaram, mas foi a Confederação Brasileira de Voleibol que as selecionou para jogarem,representando o Brasil. O soldado pode encontrar o sobrevivente, mas foi o seu governo que o treinou, o selecionou e o enviou para representar e servir o seu povo e sua nação. Nós, da mesma forma, somos treinados, escolhidos, chamados, enviados, para representar e servir o nosso Deus. Ele é quem concede a vitória.

Ah, e só para você saber: o jogo de domingo foi transferido para segunda-feira e a seleção de vôlei feminina do Brasil jogou e venceu contra a China (3x0). A gente estava lá e foi muito divertido.

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