Tuesday, August 31, 2010

Um Ônibus de Turismo, Um Buraco de Esgoto, Feridas e Incredulidade

Está última semana todos aqui de Macau, Hong Kong e China acompanharam o seqüestro de um ônibus de turismo nas Filipinas que durou 12 horas, onde um ex-policial manteve 25 pessoas de Hong Kong como reféns, liberando 9 durante a tarde (entre crianças, idosos e doentes), mas que terminou com a morte de 10 pessoas. Agora aparecem indícios de que todas as mortes foram causadas pelo seqüestrador, apesar de anteriormente se suspeitar de que a polícia pudesse ter participado dos assassinatos pela maneira antiprofissional e até amadora como lidou com o caso. A televisão de Hong Kong mostrou vários momentos do seqüestro e cerco ao ônibus ao vivo, até a conclusão sangrenta com a morte do seqüestrador e o resgate dos poucos reféns sobreviventes e dos corpos dos mortos.

O que parecia mais um capítulo concluído de uma triste história ainda está tendo repercussões. Esta crise gerou um forte sentimento antifilipino em Macau e Hong Kong. São olhares críticos, comentários maldosos, são xingamentos, e até no rádio é possível ouvir comentaristas xingando a população filipina como se uma tragédia causada por um homem desequilibrado e uma polícia má organizada fosse culpa de toda a população. No outro dia, uma das adolescentes com quem trabalhamos aqui em Macau disse que foi a uma praça com sua irmã mais nova e enquanto ali um dos guardas lhe perguntou se ela era filipina. Ela respondeu que sim. Dali a pouco, quando ela quis comprar algo ali na feira da praça o guarda vem e diz para ela que ela não pode comprar nada ali. Constrangedor, nas palavras dela. Isto em uma comunidade internacional como Macau e Hong Kong. Segundo um amigo, isto deve durar ainda umas duas semanas, em que os filipinos vão ter que ser pacientes e agüentar a pressão.

Mas é uma ferida que vai doer por algum tempo na comunidade chinesa. De uma família de 5 pessoas sobraram apenas a mãe e o filho que está no hospital se tratando de um tiro na cabeça. Ao ver o choro das famílias não dá para não se comover e chorar junto. Se você é como eu, no momento em que estas coisas estavam acontecendo você já deveria estar orando pedindo a intervenção de Deus.

Semana passada, um casal de missionários brasileiros aqui de Macau estavam para ir a Hong Kong de férias após alguns anos sem tirar férias. Enquanto estavam a caminho, a esposa que carregava a sua filhinha de 6 meses no colo, resolveu sair do sol e andar debaixo de uma marquise, em frente a uma construção. De repente ao pisar sobre o tampo de esgoto, na calçada, este se parte e ela cai dentro de um buraco de 2 metros. Sua primeira reação é proteger o bebê, o que ela faz bem, mas na queda quebra o seu joelho em dois lugares. O bebê sai com uns poucos arranhões no rosto. A construtora, responsável pelo tampo do esgoto, foi até o hospital levar uma cesta de frutas para a família. Será que a cesta vai pagar a conta do hospital? Esta semana cortamos as nossas férias antes do prazo para ajudar este casal a cuidar de seus filhos. A mãe ainda está no hospital e, como a perna ainda está inchada, não se sabe quando ela vai fazer a cirurgia ou ter alta. Vai ser uma ferida que vai doer por algum tempo também.

Estava também vendo a situação do Paquistão. Como eles estão sofrendo com a enchente. Sem água, sem comida, e a ajuda internacional se esvaindo, uma vez que ninguém quer ajudar um país que talvez esteja ajudando ou dando abrigo para terroristas. Eu tenho orado muito por este povo, e não tem como não sentir a dor deles e desejar estar lá para ajudar de alguma forma. É difícil ver alguém pedindo água e vê-lo recebendo uma pedra de rejeição ou uma serpente de vingança. Vai ser uma ferida que vai demorar muito tempo para ser curada.

Esta semana eu quero falar sobre Samá que também tinha uma ferida que demorou a ser curada. O que fazer quando somos feridos? Como trabalhar as questões do dia-a-dia que deixam marcas em nossas vidas?

2 Sm. 23:11,12

Samá era o filho de Agé. O nome Agé significa “Eu crescerei”, “Eu prosperarei”. Agé devia ter muitos planos e expectativas. O seu alvo era ser bem-sucedido, não importava o que. O seu nome era uma declaração de missão. Mas parece que seus planos falharam, e que tudo o que ele conheceu foi o fracasso, a frustração, a dor de se esforçar sem ver os resultados, a perda de ver todo o seu investimento se esvair como água em terra seca. Algumas vezes nós temos os nossos próprios planos e esperamos ser bem sucedidos em nossos esforços, e acabamos até por tirar Deus de cena. Achamos que podemos fazer as coisas por nós mesmos, na nossa própria força e habilidades. Com certeza temos que trabalhar em excelência, mas Deus tem que fazer parte do processo. Se não o resultado será frustração, depressão, sofrimento, dor, perda. Parece que Samá nasceu em meio a este caos e talvez isto deve ser o que estava na mente de Agé quando ele foi dar o nome para seu filho.

A palavra Samá significa “perda”, “desespero”, “espanto”. Talvez esta tenha sido a única coisa que Samá aprendeu e vivenciou na sua vida toda. Imagine você crescer escutando o seu nome associado com dor, sofrimento, perda, depressão. Não deve ser fácil. A ferida era sempre relembrada quando chamavam o seu nome. Imagine: “Ei, “perda”, venha aqui”. “Depressão, onde você está?”, “Dor, estou precisando de você.” Você consegue imaginar uma criança crescendo ouvindo estas palavras?

Mas veio um dia quando ele mudou a sua história. Chegou um dia quando Samá disse “Chega!” Chega de dor, chega de ser conhecido pela perda e pela derrota e pela frustração. O exército de Israel estava em um campo de lentilhas maduras, provavelmente colhendo ou protegendo-o. E lá vêm os filisteus. O que aconteceu? A tropa toda fugiu deles, com exceção de Samá. Ele deve ter se lembrado das vitórias que Deus deu ao seu povo, Israel. Deve ter pensado nas vitórias conseguidas por Davi e outros dos valentes que lutavam com ele. Ele deve ter considerado que Deus não muda, mas que ele, Samá, precisava mudar a sua maneira de pensar e de se ver e, mais do que tudo, precisava mudar a sua identidade. Samá tomou posição no meio do campo. Ele defendeu-o e derrotou o inimigo. Hoje os campos estão maduros para a colheita também, mas o inimigo tem tentado assustar a igreja a não sair para a colheita de almas. Nós precisamos, seguindo o exemplo de Samá, nos posicionar e defender o campo, mesmo se isto signifique que ficaremos sozinhos.

O que aprendemos aqui?

1- O nosso passado pode ou não direcionar o nosso presente ou futuro, mas a nossa atitude, com certeza, irá.
Não é o que aconteceu com você que vai direcionar a sua vida, mas é o que você faz com o que aconteceu com você. Qual é a sua atitude quando coisas ruins acontecem? Qual é a sua reação? Autopiedade? Autocomplacência? Murmuração? Passividade? Amargura? Falta de perdão? Você pode deixar ser influenciado pelas coisas do passado, mas você pode também se posicionar e decidir deixar Deus mudar a sua história. É tão fácil por a culpa nos filipinos, ou nos chineses, ou nos norte-coreanos,ou nos americanos,ou nos árabes/muçulmanos pelos males do mundo. É tão difícil de enxergar as nossas próprias deficiências nas nossas atitudes orgulhosas, amargas e de superioridade e discriminação. Sim, ônibus são seqüestrados, pessoas são mortas, pessoas que fazem o bem caem em buracos, mas isto não significa que Deus não está no controle. E isto não significa que Deus não pode alterar e nos ensinar em todas as nossas situações. Mas significa que só colheremos as bênçãos se nos dispormos a irmos em direção a estas bênçãos.

2- Muitas vezes estaremos sozinhos defendendo a verdade.
Para muitos hoje a verdade é relativa. Vai depender do benefício que ela traz para mim. Muitos dizem hoje que cada um tem a sua própria verdade. Inúmeras vezes vamos nos encontrar defendendo as verdades da Bíblia sozinhos, estando completamente abandonados, quer seja por medo, pelo peso e responsabilidade que a verdade traz, pelas conseqüências, etc. Diversas vezes vamos ter pessoas mirando suas armas de crítica e violência verbal contra as nossas cabeças, idéias e posições. Mas temos que nos estabelecer na verdade, pois é a verdade que nos liberta e traz cura para as feridas (Jo. 8:32; 14:6; 8:36). Apenas a verdade pode nos dar uma visão integral da vida, pois se a verdade for relativa, de acordo com a visão de cada um, pessoas que seqüestram ônibus e aviões estarão sem desculpas para fazê-lo, o aborto continuará sendo justificável, o homossexualismo vai continuar a ser uma opção viável, drogas vão continuar a ter espaço no meio dos jovens, a violência doméstica vai continuar a ser tolerada, a pedofilia vai encontrar aderentes, pois a verdade está limitada ao benefício próprio, e a ética e a moral vão continuar a serem desconsideradas.

3- O inimigo não quer que nos beneficiemos das bênçãos do Evangelho.
Temos que ter isto em mente: Deus já preparou bênçãos sem fim para nós, mas o inimigo através de engano, mentiras, manipulação, opressão, tem estado a enganar as pessoas, lhes dando uma mentalidade de vítima, de conformismo, de passividade, de que as situações pelas quais vivem são imutáveis, que Deus é incapaz de mudar as circunstâncias. Se não nos posicionarmos nas promessas divinas da Palavra e se não gastarmos tempo de comunhão e intimidade com Deus nós iremos aceitar as mentiras do inimigo e nos tornaremos cegos no nosso entendimento de quem somos em Deus e qual é o destino por causa de nossa incredulidade que impede a luz do Evangelho de Cristo de brilhar em nossas mentes (2 Coríntios 4:4). Não podemos aceitar ser chamados de derotados, frustrados, perdedores, depressivos, mas temos que desfrutar das bençãos que Cristo comprou para nós na cruz.

4- Deus nos chamou para colher os campos com a mensagem do Evangelho.
João 4:35 diz que os campos estão prontos para a colheita. E a oração de Jesus é para que Deus mande obreiros para a sua seara, para fazer a colheita. Mc. 16:15 relata esta realidade nos chamando para irmos por todo o campo (mundo) levar o Evangelho a toda criatura. Em Mt. 28:18-20 somos outorgados de autoridade para fazer discípulos (não crentes ou membros de igreja), ensinando-os as realidades do Reino (que não está limitada apenas ao trabalho na igreja), batizando-os para entrarem nesta nova realidade e ter a certeza da cooperação, da sinergia com Deus que está sempre conosco, afinal somos cooperadores com Ele (1 Cor. 3:9; 3 Jo. 8). E você sabe o que é lindo nisto? É que muitas vezes quando estivermos feridos,Deus vai colocar pessoas mais feridas do que nós para podermos ser agentes de cura para elas, sem que percebamos que Ele está nos curando neste mesmo processo. Quando servimos transmitimos cura e somos curados.

5- Deus tem um novo nome para nós. Uma nova identidade.
Samá por muito tempo amargou ser conhecido como dor ou perda ou ser relembrado da história de derrota de seu pai e de sua família. Mas chegou um momento onde ele resolveu ser conhecido pelo nome que Deus tinha para ele, e assumir a nova identidade do Reino. Deus tem um novo nome e uma nova identidade para cada um de nós. Ele mudou o nome de Abrão, Sarai, Jacó para nomes que expressam o seu propósito e seu caráter. Ele quer expressar o seu amor, seu caráter, suas bençãos e seus planos em nossas vidas. Esta nova identidade é encontrada apenas em Jesus. Por enquanto ser filipino é ser mal-visto. Em alguns países, ser brasileiro não é muita vantagem. Ser americano é uma sentença de morte em alguns países muçulmanos. Mas todos podemos ser cidadãos dos céus, onde ninguém pode nos impedir de entrar a não ser nós mesmos. Assuma a nova identidade dos céus para a sua vida.

E ao final, nós lemos novamente que o Senhor concedeu uma grande vitória. Samá pode ter lutado a batalha, mas Deus concedeu a vitória. Podemos lutar com todas as nossas forças, mas a vitória vai vir do Senhor. Afinal ele é nosso cooperador e nós dele.

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