Thursday, November 4, 2010

Nobel e a Viúva

Todos devem estar cientes que neste ano de 2010 o prêmio Nobel da paz foi dado ao professor, crítico literário e ativista pelos direitos humanos Liu Xiaobo. Liu Xiaobo é chinês e foi preso em 23 de junho de 2009, sendo condenado em 25 de dezembro de 2010 a 11 anos de prisão pela sua participação na assinatura da Carta 08. A acusação contra ele é de incitar a subversão contra o poder do Estado. O que é a Carta 08? É um documento, um manifesto, assinado por intelectuais e ativistas de direitos humanos de vários níveis e profissões, além de 8 mil outras pessoas, que pede pela reforma política e a democratização da China. Este ano Liu Xiaobo foi laureado com o prêmio Nobel da paz “pela sua longa e não-violenta luta pelos direitos humanos fundamentais na China” , de acordo com o Comitê Nobel Norueguês.

Eu creio que a China vai se abrir para uma democratização e reforma política. Não acho que vai ser hoje ou amanhã, mas acredito que já está acontecendo. Na verdade, na atualidade, designar a China como um país comunista ou mesmo socialista é enganoso. Você pode verificar isto ao andar pelas ruas da China. Não existe nada de comunista ali. Na verdade você vê um capitalismo selvagem tomando conta da alma dos chineses, sem um cuidado educacional, sem limites ou ética. Os chineses tentam copiar um modelo do oeste que “aparenta” ter dado certo, sem se lembrar que houve todo um processo social, histórico, religioso, filosófico, para se chegar onde estamos hoje, e sem se dar conta que ao mesmo tempo que temos os bens de consumo, o dinheiro para adquirí-los, e o progresso e a tecnologia para processá-los, nós perdemos a nossa alma, estamos perdendo os nossos relacionamentos, estamos perdendo o mundo em que vivemos, e estamos morrendo espiritualmente. Sim, houve e ainda existe consequências pela maneira como vivemos a vida no ocidente.

Como definiríamos a China? A China hoje é uma nação nacionalista capitalista com nuances de socialismo. É nacionalista porque foi algo que o governo conseguiu incutir na população: o orgulho de ser chinês, o orgulho da China como nação, o orgulho de sua história e cultura. Antes os chineses tentavam fugir da China para escapar de um regime autoritário para nunca mais voltar. Hoje eles saem da China por alguns anos, trabalham até levantar uma pequena fortuna, e decidem retornar a China, pois não existe lugar melhor de se viver do que a China. Portanto, a China vai e está se abrindo para mudanças profundas no quadro político e governamental. Paciência é uma virtude na China. O grande exemplo de abertura política e econômica que eles não querem seguir é o da Rússia, onde o socialimo terminou de repente e o país se quebrou, sendo controlado hoje pela máfia e grandes corporações e a população está sofrendo com pobreza, corrupção, desemprego, violência, etc. Não, a China não quer isto. A abertura vai ocorrer e, talvez, isto leve 10 anos, 20 anos. Não importa. Chegaremos lá. Mas isto não quer dizer que temos que nos calar para as injustiças. Não! Nós temos que denunciá-las, de forma a erradicá-las. E temos que não apenas denunciar, mas também agir com ações de solidariedade e justiça em um movimento de amor e transformação nas diferentes áreas da sociedade.

Uma vez Jesus, junto com seus discípulos e uma multidão que os seguiam, estava indo até uma cidade chamada Naim. Ao chegar perto do portão da cidade eles encontraram uma procissão saindo da cidade: o funeral de um rapaz. Ele era o único filho de uma viúva. Quando Jesus viu a mãe do rapaz ele sentiu compaixão dela, lhe disse para não chorar, parou a procissão, e disse ao rapaz morto para se levantar. O rapaz se levantou e Jesus o entregou à sua mãe. A multidão louvava a Deus declarando que um grande profeta havia surgido em Israel e que Deus tinha vindo para salvar o seu povo. Este relato aparece em Lucas 7:11-17.

O nome Naim significa beleza, e Naim era realmente uma beleza de cidade cercada por um vale verdejante. Talvez era por isto que Jesus estava indo para ali, para apreciar as belezas naturais daquele local, tirar umas férias, descansar um pouco, ou talvez é porque ele sabia que teria um encontro divino naquele local. Para alguém Naim, naquele momento, não possuia nada de belo. Era um local de sofrimento, de perda, de desespero. A mãe daquele rapaz era uma viúva, ou seja, o seu marido já havia falecido e ela dependia agora apenas de seu filho para proteção, sustento, manter o nome da família. Mas ele morreu também. A bíblia registra que ele era o seu único filho. E agora ela estava totalmente desamparada. Quantos de nós não estamos em situações semelhantes? A nossa vida que deveria ser de vida e de beleza é apenas uma história de dor e abandono. Não conseguimos enxergar nada de belo no que nos rodeia.

O cortejo funebre estava saindo pelos portões da cidade. Os portões das cidades eram lugares importantes. Eram representativos de autoridade, pois era ali que os anciãos da cidade vinham para relatar as suas decisões. Era ali que o povo vinha para peticionar junto aos governantes por suas causas. Veja exemplos na história de Rute e Absalão (Rt. 4:1-12; 2 Sm. 15:1-6). Mas era pelos portões que que o jovem morto estava saindo. Hoje muitos de nossos jovens se encontram na mesma condição. Estão perdendo a sua autoridade e estão morrendo para a vida. Estão tomando decisões erradas e acabam por perder a autoridade que deveria ser deles. Estão entregando esta autoridade para as drogas, bebidas, pornografia, promiscuidade, consumismo, suicídio, etc.

Você consegue perceber o que levou Jesus a reviver aquele rapaz? Não foi porque ele estava morto (todos morrem eventualmente). Não foi por causa da multidão. Não foi por causa dos discípulos. Foi por causa da mãe do rapaz. O que ela estava fazendo? Ela estava chorando. Jesus sentiu compaixão por que Ele se identificou com ela. Assim como aquele rapaz era o seu único filho, Jesus também era e é o único Filho de Deus. Assim como aquele rapaz morreu Jesus também teria que morrer (por nossos pecados). Assim como aquela mãe estava chorando, Deus também choraria e teria o seu coração partido pela perda de Seu único Filho, morto por causa do pecado da humanidade. Na versão NVI em inglês diz que o coração de Jesus foi para ela. Você vê, assim como aquela mulher, nós precisamos de mais mães chorando pelos seus filhos, precisamos de mais mulheres chorando pelos filhos dos outros, precisamos de mais pessoas se manifestando contra a morte e ansiando pela vida. Precisamos de intercessores que chorem por esta geração que está morrendo e se perdendo. Precisamos de pessoas que denunciem as injustiças que estão ocorrendo no mundo contra as crianças, contra as mulheres, contra os jovens, contra o meio-ambiente, contra os grupos minoritários, contra aqueles incapazes de se defenderem.

Quando Jesus viu aquela mulher chorando, ele foi movido de compaixão. Ele parou a procissão (aquele era um lugar de autoridade e Ele tinha a autoridade), Ele toca o caixão e Ele chama aquele rapaz. E aquele rapaz se assenta. Sabemos que aquele era uma caixão (ou maca) aberto pelo fato de que o rapaz se assentou. Muitos pessoas quando olham para as suas vidas acham que não existe mais esperança. É como se fosse um caixão fechado, não tem como mudar a história de suas vidas. Mas nossas vidas, na verdade, por mais morta que possamos sentir que estejam, está dentro de uma caixão aberto. Não é o fim. Não precisa ser o fim. Basta um toque de Jesus e uma palavra dEle e podemos nos levantar e experimentar uma novidade de vida fluindo em nosso ser.

A partir do momento que experimentamos o poder de vida de Jesus, nós também temos que nos assentar. Temos que nos assentar com Ele nas regiões celestiais (Ef. 2:6); temos que nos assentar nos locais de influência; temos que nos assentar nos locais de decisão, temos que nos assentar aos pés de Jesus (Lc. 8:35; 10:39,42). Jesus sabe de onde viemos, mas Ele está mais preocupado para onde vamos.

Além de sentar, aquele rapaz começou a falar. Não sabemos o que ele falou, mas o fato é que ele estava morto e agora ele está falando. Isto é o que esta geração de hoje precisa. A partir do momento que recebem um toque de Jesus e ouvem e obedecem as suas palavras esta geração precisa falar, expor as suas opiniões, expressar as suas convicções e seu testemunho. Agora não é mais hora de se calar, é o momento de falar, é o momento de compartilhar o seu testemunho, é o momento de defender as causas justas (aquelas que defendem a vida).

Que possamos ser laureados com prêmios espirituais pela nossa luta não-violenta pelos direitos humanos, pelo direito à vida, pelo direito de expressar nossas convicções em prol da paz e que possamos nos identificar com Jesus ao ponto de chamar a Sua atenção e que a Sua compaixão possa parar as procissões funerárias em nossas vidas e ao redor de nós e gerar vida e mudanças no estado atual das coisas. Com presidente recém eleito ou sem.

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